Observações Astronômicas de Galileu nos Livros Didáticos de Física

AS OBSERVAÇÕES ASTRONÔMICAS DE GALILEU NAS ABORDAGENS DOS LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA: ASPECTOS DA NATUREZA DA CIÊNCIA

Autores:

Maria Amélia Monteiro (Docente do Departamento de Física da UEPB – Campina Grande, PB), Roberto Nardi (Docente do Departamento de Eduação, FC; Programa de Pós-Graduação em Educação Para a Ciência, UNESP – Bauru, SP)

Recortes do artigo:

[…] O objetivo da presente pesquisa é analisar as menções sobre as observações astronômicas realizas por Galileu, apresentadas por livros didáticos de física da educação básica brasileira. […] Para tal análise, nos orientamos pelas seguintes questões de pesquisa: a) Qual a contribuição para a consolidação da revolução copernicana que os autores dos livros didáticos de física atribuem as interpretações das observações de Galileu? b) Qual a perspectiva de natureza da ciência subjacente às abordagens dos livros didáticos de física acerca das observações de Galileu? […] A partir destas especificações, organizamos as menções dos livros didáticos nas seguintes categorias: 1) As constatações observacionais de Galileu desvinculadas do contexto histórico. 2) As constatações observacionais de Galileu associadas a aceitação do copernicanismo. […] Os livros didáticos, cujas menções sobre as observações de Galileu foram analisadas, encontram-se descriminado abaixo.

Livro Referência
(…) (…)
7(L7) PIETROCOLA, M. O., POGIBIN, A., ANDRADE, R., ROMERO, T. R. Física. Movimentos em contextos pessoal, social, histórico . Vol. I, 1 ed. São Paulo, SP: Editora FTD, 2011.

[…]

  1. As constatações observacionais de Galileu desvinculadas do contexto histórico

Na presente categoria estão incluídas as abordagens dos livros didáticos sobre as observações Galileu que apresentam desvinculadas das pressuposições adotadas por Galileu, como também do debate e disputas ocorridos no tocante à aceitação ou rejeição das implicações daquelas observações. […]

  1. As constatações observacionais de Galileu associadas a aceitação do copernicanismo

Na presente categoria estamos incluindo as menções do livro didático que situam as observações de Galileu com a aceitação do copernicanismo. […]

No livro L7, os autores referem-se às observações de Galileu em oposição ao aristotelismo, contrapondo as argumentações aristotélicas com contra-argumentações galileanas, sobretudo no tocante a perfeição e imperfeição celestes. Ao longo da secção, os autores do livro L7 também pontuam as observações de Galileu como contribuindo para à consolidação do heliocentrismo, especificamente em consequência das fases de Vênus. Ou seja, as abordagens do livro L7 sobre as observações de Galileu incorporam elementos presentes no debate da construção da ciência. Com isso, tendem a inserirem-se em uma perspectiva de natureza da ciência […]

Interpretamos que as abordagens dos livros didáticos sobre as observações de Galileu, sejam elas sem menções as pressuposições adotadas por Galileu e suas relações com as ideias da época, sejam elas associadas a aceitação do copernicanismo, não discutem as abordagens apresentadas, no sentido de não apenas justificar a própria abordagem, mas, principalmente, em elaborar uma argumentação para o leitor acerca das polêmicas ocorridas em torno das observações de Galileu. Neste aspecto, nota-se uma exceção nas abordagens do livro L7, porém ainda muito restritas ao contexto interno das elaborações de Galileu e não da recepção das suas ideias.

Conheça o Trabalho Completo no link: http://snea2012.vitis.uspnet.usp.br/sites/default/files/SNEA2012_TCO3.pdf

PNLD 2015 – Guia de livros didáticos de Física

Acesse o Portal FNDE e conheça a Coleção Física – Conceitos e Contextos: Pessoal, Social Histórico nas páginas 45 a 48 do Guia de Livros Didáticos de Física, selecionados no Programa Nacional do Livro Didático de 2015. Clique aqui http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guias-do-pnld/item/5940-guia-pnld-2015

FNDE_PNLD_2015Contextos

Astronomia Cultural

“ASTRONOMIA CULTURAL” EM LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA APROVADOS NO PNLEM 2012

 Autoras:

Marta de Souza Rodrigues (Mestranda da Universidade de São Paulo/Instituto de Física) e Cristina Leite (Universidade de São Paulo/Instituto de Física)

Trechos do Artigo:

[…] O intuito, por fim, é compreender de que forma e com qual frequência a astronomia cultural tem sido tratada por estes materiais. […] Desta forma, usando como referência os livros de física aprovados no último PNLEM, que estão sendo distribuídos nacionalmente em 2012, estes foram tomados como base para compor a amostra analisada, presente no quadro 1.

Quadro 1: Catálogo de livros – PNLEM 2012

Título da Obra

Autor

Editora

(…)

Física em Contextos

PIETROCOLA et al.

FTD

(…)

As obras consideradas, em todos os casos, consistem em coleções compostas por três volumes e todos estes foram tomados para a identificação, num primeiro momento, da presença dos conteúdos de astronomia. Para tanto, recorreu-se ao sumário dos materiais. Todas as coleções possuem pelo menos um capítulo no qual são tratados assuntos relacionados à astronomia. Os mais recorrentes foram: Gravitação Universal e Leis de Kepler. Alguns materiais (Pietrocola et al., 2010 e Menezes et al., 2010), todavia destinaram uma unidade inteira exclusivamente à astronomia, sendo trabalhado um conjunto maior de tópicos nestes casos.[…]

Após o contato com todas as coleções e identificados os trechos, recortes de interesse para a análise junto ao tema da astronomia cultural, foram propostas três grandes categorias para comportar a variedade de abordagens encontrada. São estas: “Diversidade Cultural”, “Cultura na Astronomia” e “Outros”. […] Em se tratando de “Cultura na Astronomia”, a principal preocupação deste agrupamento é mostrar as influências culturais particulares junto a temas da astronomia. […] A categoria “Diversidade Cultural” procura agrupar aspectos que se referem à existência de formas diversas de organização e produção cultural, em um movimento que busca mostrar além dos feitos e considerações relativas ao mundo ocidental. […] No caso da categoria “Outros”, estão agrupados justamente os materiais que pouco apresentaram contribuições para o debate envolvendo a astronomia cultural […]

Três obras […] trouxeram aspectos contemplados tanto em “Diversidade Cultural” quanto em “Cultura na Astronomia”. […] “Física em Contextos” (e outra) […], por destinarem atenção maior à astronomia, consequentemente, foram os materiais mais significativos dentro do tema da análise proposta. A começar pelo primeiro, os aspectos que o aproximam da categoria “Cultura na Astronomia” tratam da elucidação acerca do conhecimento egípcio do céu e sua relação direta na agricultura e da questão estética grega envolvendo os círculos, de forma associada à ideia de órbitas circulares para os planetas. Os pontos que contemplam a categoria “Diversidade Cultural” estão relacionados à citação da construção de calendários por diversos povos, além da referência (implícita) a uma interpretação para a cultura, com viés universalista por estabelecer uma ordem de evolução desta quando se faz menção ao “homem primitivo”. […]

Quadro 2: Categorização dos materiais.

Obras

Categorias
Diversidade Cultural Cultura na Astronomia

Outros

(…)

Física em Contextos

X

X

 
(…)

Considerando apenas as categorias “Diversidade Cultural” e “Cultura na Astronomia”, é possível ainda que subcategorias sejam criadas, com o intuito de pormenorizar a análise para evidenciar uma compreensão mais apurada (porém enxuta) dos materiais (quadros 3 e 4). O critério neste caso está relacionado com a identificação de temáticas mais gerais que são recorrentes dentro de uma mesma forma de abordagem.

Quadro 3: Subcategorias para “Cultura na Astronomia”

Obras

Categorias

Estética e Manifestações Artísticas Catolicismo

Astronomia e Cotidiano

(…)

Física em Contextos

X X

X

(…)

No que diz respeito às subcategorias de “Cultura na Astronomia”, o agrupamento “Estética e manifestações artísticas” está relacionado, de alguma forma, a uma noção de cultura, pois nele se encontram os materiais que fizeram referência tanto a questão da perfeição atribuída aos círculos e esferas pela cultura grega, quanto à aproximação da ciência ao contexto das obras de arte. Já em “Catolicismo”, estão coleções que, principalmente no debate durante os séculos XV e XVI envolvendo a ascensão do heliocentrismo, apontaram o poder da igreja católica e seus dogmas em afirmar a teoria geocêntrica. “Astronomia e cotidiano” representa a associação entre elementos celeste e o cotidiano de forma ampla (indo desde práticas como a agricultura à crença em divindades).

Quadro 4: Subcategorias para “Diversidade Cultural”.

Obras

Categorias

Calendários Cosmologias Universalismo Cultural

Relativismo Cultural

(…)

Física em Contextos

X X X

 

(…)

Portanto, a citação acerca da construção de calendários, assim como as ideias sobre a origem do universo, planeta e vida por parte de diversos povos foram temas recorrentes nos materiais da categoria “Diversidade Cultural”, que surgem nas respectivas subcategorias: “Calendários” e “Cosmologias”. Foram percebidas ainda duas interpretações acerca da cultura, correspondendo às subcategorias que se referem ao universalismo e relativismo cultural. No que diz respeito ao “Universalismo Cultural”, a ideia implícita está relacionada à noção de evolução da cultura com um sentido linear de progresso, caminhando de organizações ditas primitivas às julgadas mais desenvolvidas. Já em “Relativismo Cultural”, é predominante a concepção multilinear para a cultura, que também se aproxima à legitimação, reconhecimento de diferentes formas de organização cultural, de acordo com sua função e coerência interna. […]

Ainda assim, a existência de dois materiais na análise com tratamento mais extenso e sólido sobre o tema, como ocorre em […] Pietrocola et al. (2010), precisa ser ressaltada, ainda mais considerando a forma diversificada que cada grupo de autores abordou a astronomia cultural. […] A abordagem cultural pode fomentar nos estudantes uma postura reflexiva diante dos caminhos que o conhecimento científico possui junto a um determinado contexto e forma de organização cultural, além de incentivar uma postura de entendimento, compreensão, respeito em relação às diferenças e convivência com o que é plural.

Conheça o Artigo Completo no link:  http://snea2012.vitis.uspnet.usp.br/sites/default/files/SNEA2012_TCO17.pdf

 

Vídeo: Entre sons e sensações

Este vídeo é dedicado a conversar com os professores de Física sobre as atividades do Volume 2 da coleção, que exploram as relações entre física e música. Algumas personalidade que contribuíram para as primeiras sistematizações de princípios gerais da música como arte e como ciência são apresentadas e estudadas na atividade histórica tema da conversa deste vídeo. Esperamos que gostem do vídeo e que seja motivador e traga novas ideias para o desenvolvimento da atividade!

Vídeo: As Revoluções das Esferas Celestes

O vídeo de hoje trata da atividade histórica que propõem a análise de partes do livro de Nicolau Copérnico sobre “As Revoluções das Esferas Celestes”.
Pensadores da Antiguidade Clássica, como o grego Aristarco de Samos, já especulavam um sistema de mundo com o Sol no centro, mas foi somente no Renascimento que o modelo heliocêntrico foi tratado com base em cálculos matemáticos das posições dos astros e diagramas elaborados sobre o movimento celeste.

A base desta atividade é o prefácio do livro de Copérnico, que foi escrito pelo teólogo luterano Andreas Osiander, amigo de Copérnico e que se empenhou na publicação da obra.
Por se tratar de um texto muito antigo, os alunos podem sentir dificuldades com a linguagem utilizada. Por isso, sugerimos iniciar a atividade na sala de aula, fazendo leitura compartilhada com a classe e discutindo coletivamente. Essa discussão será importante para nortear as respostas das questões que podem ser feitas como atividade extraclasse.
O primeiro ponto de destaque é o fato do novo sistema de mundo, proposto por Copérnico, ser tratado apenas como hipótese tanto no título quanto ao longo do texto.
Na época da publicação, contradizer o universo geocêntrico era considerado heresia, pois retirar a Terra do centro do universo, também significava tirar o homem do centro e a razão de ser da criação do mundo. Assim, Osiander usou o termo hipótese com intuito de diluir o impacto que a obra provocaria naquele momento.
Outro aspecto que merece interpretação junto aos alunos são os trechos em que se trata dos sábios que ficariam indignados com a mudança das disciplinas liberais há muito bem estabelecidas. Nesse momento do texto, Osiander está se referindo aos intelectuais e religiosos que defendem e difundem as teorias aristotélicas e a tradição geocêntrica, vigentes desde a antiguidade clássica.
Contudo, mesmo contradizendo as crenças científicas e religiosas vigentes, Osiander ressalta que as revoluções de Copérnico não merecem reprovação. Esse é o terceiro ponto a ser discutido, pois segundo ele o é papel do astrônomo usar os dados obtidos, a partir de criteriosas observações e não apenas por divagações e raciocínio, para elaborar o melhor modelo que permita investigar e compreender com a maior precisão possível os movimentos do céu. Além disso, pode-se notar que Osiander não coloca o heliocentrismo como a verdadeira representação do universo, mas apenas como o modelo mais adequado e coerente para as observações celestes. Talvez esse seja mais um artifício na tentativa de amenizar o choque que a obra causaria no momento da publicação.
Também será interessante discutir quais são os absurdos e inconsistências que essas disciplinas há muito bem estabelecidas apresentam, como por exemplo, as observações reais do planeta Vênus em contraposição ao que seria esperado no sistema aristotélico-ptolomaico.
No sistema geocêntrico o planeta Vênus, durante o movimento em seu epiciclo, ora está mais próximo a Terra, ora está mais distante, assim caso está teoria estivesse correta deveríamos observar mudanças no tamanho do planeta, o que não acontece.
Para finalizar é importante ressaltar que apesar do sistema de mundo copernicano responder a algumas indagações, não foi capaz de apresentar todas as explicações.

(i) Ainda permaneceu a esfera das estrelas fixas,

(ii) os planetas não estavam soltos no espaço, mas presos em esferas cristalinas que os sustentavam e os carregavam juntos em seu movimento,

(iii) não soube justificar a razão pela qual somente a Lua orbitava nosso planeta,

(iv) nem a causa da queda dos graves e o motivo dos corpos terrestres acompanharem o movimento da Terra em seu giro pelo espaço.

Essas questões necessitaram de mais algumas centenas de anos e o desenvolvimento do conhecimento científico e dos instrumentos de observação celeste para serem respondidas.
Professor, desejamos que esta atividade favoreça o entendimento da trajetória histórica em direção a obtenção de uma explicação adequada para o movimento dos corpos celestes!

Vídeo: Foi Assim… Investigue com o Pesquisador

Vídeo de apresentação da seção Foi Assim… Investigue com o Pesquisador.

Comumente a formação científica escolar está pautada apenas nos produtos do conhecimento, o que acaba contribuindo para a visão de uma Ciência estática, na qual conceitos e leis são tidos como descobertas realizadas por mentes geniais num “passe de mágica”. Deixar de abordar os enganos cometidos, as controvérsias entre idéias e a influência do contexto sócio-econômico, significa suprimir o dinamismo envolvido na evolução e aprimoramento/aperfeiçoamento do fazer científico.
A inserção de uma perspectiva histórica no ensino de Ciências ajuda na compreensão dos conteúdos pelos alunos, na medida em que traz a origem dos conceitos, contextualiza o conhecimento e apóia a interdisciplinaridade. A História favorece a concepção da Ciência como um empreendimento humano na busca por respostas a questões do mundo natural e da realidade do seu tempo, e que, por isso, deve ser considerada como parte integrante da nossa cultura.
Acreditamos também que a História da Ciência não deve ser vista como conteúdo extracurricular. Assim optamos por utilizar a abordagem histórica como uma estratégia didática que permeia toda a coleção, através da linha do tempo, do texto da maioria dos capítulos, de questões para discussões individuais ou coletivas, dos boxes com a biografia de cientistas e das atividades históricas.
Nessas atividades, os alunos são convidados a ler, interpretar e discutir trechos de textos originais de importantes cientistas da História da Física, ou seja, pesquisadores do passado.
O contato com esses fragmentos de textos históricos permitirá aos alunos terem contato com a linguagem e as analogias de outras épocas, compreenderem as dificuldades envolvidas no tratamento de alguns princípios físicos quando a matematização dos conceitos ainda não tinha sido formulada, perceberem a origem e o desenvolvimento de algumas idéias e os debates entre cientistas contemporâneos, o que contribuirá para uma visão critica ao evitar crenças distorcidas sobre o fazer científico.